MANIFESTO DE UM MENINO INCONSTANTE, INCOMODADO, ANGUSTIADO, VIADO E AFEMINADO DE CABELOS AZUIS.




Ódio. Não um ódio específico a alguém, mas talvez a uma força. Ódio e repulsa a força sistemática e alienadora da mente, do corpo e da alma que se firma como verdade. Desconforto ao desespero espetaculoso observado de maneira curiosa por este que vos escreve dos muitos eu's que exalam uma deficiência de suprir algum vazio inexplicável porém latente que gera uma angústia e um desespero que incapacita um sorriso, um abraço, sentir-se vivo e potente no mundo ou estar extrovertido e livre de alguma maneira se relacionando com outros (isso também se aplica a este que vos escreve). Repulsa ao congelamento e inatividade diante de acontecimentos que afetem a ética e a justiça e ao nosso posicionamento diante do que vivenciamos cotidianamente no trabalho, ônibus, família, filas de banco, bancos de praça, de madrugada vendo alguém ser assaltado, a inércia de não doar o assento pra alguém, de ver ou ser chamado de viado na rua, de reagir quando a vontade é de partir pra porrada ou ao menos vomitar palavras gritadas e não ficar entalado por dias com o que poderia ter sido dito e não conseguiu, de ver os próprios direitos como ciclista burlados por carros cada vez mais grandes e desrespeitosos e se dar ao direito de dançar bolero de Ravel em cima deles quando isso acontecer. Medo e sede de enfrentar padrões monocromáticos de fardas das altas patentes do poder nacional, estadual, municipal, religioso, tanto como poderes provindos de indivíduos com grande acúmulo de dinheiro e bens de consumo.

O sangue ferve,os olhos lacrimejam e a raiva se acumula em mim como um câncer. Meu corpo repudia não só a um sistema, mas também a um pensamento mantenedor de um estado apático e mórbido de um formato social que é indiferente a toda e qualquer interferência absurda, caótica que venha a prestigiar, elucidar, sublinhar, almejar, propagar, destacar, salientar vínculos afetivos, carinhos, ideias, andar de bicicleta, dançar na rua no meio dia, correr na chuva, jogar pedras em um rio poluído na esperança de algo que não se sabe bem ao certo, apedrejar outdoors de propagandas políticas e mensagens publicitárias, abraçar alguém que não se vê a tempo e que viu a pouco, conseguir sorrir mesmo diante da falta de condições básicas de existência, dividir um pedaço de pão, ver o próprio filho dando os primeiros passos e falando seu nome, ter alguém ao seu lado que te diga: To com você.

Diante de todas essas intempéries quero continuar resistindo.Quero respirar de verdade, quero amar, quero aprender a mandar o guardinha (criatura paga para ficar parada e dizer - não pode!) de algum lugar tomar no cú, Quero gritar até a gargante sangrar. Quero ser viado pintoso no centro da cidade ao meio dia, quero subir em postes e cantar like a virgin, quero ser todo potência, quero ser, apenas ser um e todos, eu quero ser uma força.





Eu ainda sou correnteza
Felipe Damasceno.


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