Na geladeira.



Oh céus, que faço eu? Não sei se como, se durmo, se vou ou se fico. Não sei se me deito e conto os momentos frustantes da vida, ou se penso na novela e no dia de trabalho amanhã. O que faço diante da geladeira? Como vim até aqui? Mas já que vim... Pra que preciso dela? Deus! Como sou inconstante e desapercebido das coisas do mundo, como poderia eu ter vindo parar aqui? Uma ausência de memória repentina me ceifou a lucidez da existência e percurso de poucos metros de distância de onde estava para onde estou? Um salto quântico? Talvez seja o mundo das sombras que Platão tanto dizia? Onde esta esse das idéias?
O que são tais idéias perfeitas que me assolam? Que assolam os reis? Emfim, por que vim até aqui? Me refiro a geladeira. Falo da GELADEIRA. Ok! Vamos por parte. A geladeira é pra manter as coisas conservadas, frias e de preferencia úteis para mim de alguma forma, eu abro-a quando necessário e retiro o que dela me interessa. Depois fecho-a. Simples. Mas sempre me pergunto no que acontece quando eu fecho  geladeira, ou um armário. Será que as coisas permanecem ali tais como as deixei? Será que não são levadas para outro lugar? Como um buraco negro? E se essas coisas "mortas" estiverem vivas? Se elas pensarem? Tiverem vontade própria? Deus! Que cruel sou, eu as como. Mas quem sou eu, reles criatura faminta e egoísta para impedi-las de, por exemplo, saírem da geladeira? Irem até o microondas nas férias, ou no fogão elétrico? Visitar seus companheiros no armário? Correrem livres pela casa. Não me levem a sério, vegetais e condimentos industrializados não tem vontade própria. Tem como utilidade unica serem comidos.

Ainda estou diante dela. Ainda tenho mil vontades e mil indecisões. Como indeciso posso ser diante de tantas coisas que me são ofertadas pelo mundo? Tenho tudo. tenho pão, tenho café, tenho até leite condensado e um cigarro amassado, que mais iria querer no mundo lá fora? Por que essa fome? Fome de sair? Fome de comida? Fome de gente? Fome de sexo? Fome de amor? Fome de amizade colorida? Fome de tantas coisas que se ditas perdem a graça de se ter fome. Pois só se tem fome quando o estômago esta vazio. Óbvio. Por que iria querer mais do que meu estômago suporta? Que maluquice né?!

Sempre me perguntei por que pra dormir tem que se fechar os olhos. Seria biologicamente incorreto, tendo em vista que para a perpetuação da espécie, dormir de olhos fechados facilita os predadores de nos pegarem, né não?! Eu só tenho sono nas horas mais chatas, que é quando eu não quero e não posso dormir, confesso que acho chato dormir, fica de olho fechado, não ver as coisas acontecendo, não poder participar. Ai eu lembro da geladeira de novo, será que eles não saem por que estão dormindo? Estão dormindo? Várias vezes eu deixei a geladeira aberta e eles continuarão lá. Talvez seja como aquela estória de elefantes de circo, é assim: Quando jovens são amarrados em um pino de ferro resistente, pois se agitam muito por estarem e passarem o tempo todo presos, já mais velhos o pino é mais frágil, de madeira, pois estão velhos e já se acostumaram com aquilo tudo lá. Legal né? Fiquei me perguntando pra que eles trocaram os pinos? Poucos pinos? Nem sei se esta estória é verdadeira, eu vi em algum lugar, acho que em um desenho animado. Achei que fosse verdade ai contei, rs!.

Ai! quero correr. Sabe aquela vontade de correr e tacar o cu na pista até ralar todinho? Pois é! As vezes da essa vontade, não sei por que. Por que teria vontade de sair correndo? De tacar o cu na pista? Qual o sentido disso? Humano inconstante. Me deu sono. Acho que vou dormir. Tchau!




Felipe Damasceno


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