24/04/2013 06:30



   A um preço  para tudo. A exposição tem os seus.
Se expor  demais leva-o paradoxalmente a uma invisibilidade, a uma inexistência.
Pois quando se é “normal” tem-se a graça e o doce sabor do descobrir. Outros mistérios além do grande mistério de “o que tem dentro da cueca”.





E o que se tem quando tudo, ou quase tudo, esta ali diante de você? Obviamente ainda não é possível expor tudo. Existe coisas que ficam no âmago de cada um. Sempre se cria um "personagem".

Quebrou-se a barreira, quebrou-se o invólucro que nos cercava. Nós criaturas pensantes.



Ao mesmo tempo em que todas as portas se escancararam, nós humanos evitamos que alguém se sente ao nosso lado no ônibus. Não é lição de moral, quem sou eu para dar lição de moral. Apenas mais um par de olhos e uma mente inquieta e por vezes inquieta e equivocada. Então cá fico eu com minhas inquietações, pois bem percebo que o umbigo é o que nos direciona ao outros seres para falar de nossos umbigos.



                                                Felipe Damasceno.

Crises... O que seriam dos artistas sem elas?




Sinto por vezes a necessidade de entrar em um estado performático constante. Matar as possibilidades de uma aceitação social, amorosa e enfrentar os olhares de estranhamentos. Uma imagem construída, não uma imagem falsa, mas a real imagem que tenho de mim mesmo.

Pra que a realidade? O que ela é mesmo? A realidade me cansa e creio que não só a mim, mas a todos. Um olhar blazê para tudo, como se de fato tudo já tivesse sido inventado, concebido, inaugurado. Ando me sentido um comum. Uma pessoa qualquer, e sobre isso sempre tive problemas. Não me concebi como criatura para ser mais um. Sei bem que tal necessidade, do especial, do único, do exclusivo é em grande maioria senso comum, mas não quero.




Ouço coisas boas a meu respeito e sinto-me traidor. Minto para mim as vezes. Minto sobre essa existência que inventei. Por que inventei isso? Por que não me mantive em um emprego de oito horas por dia com remuneração mensal certificada? Não consigo. É injusto. Sei que posso oferecer na passagem que faço nesse mundo. Crises... O que seriam dos artistas sem elas?

Preciso começar. Preciso de forças. Preciso existir como ser independente. Preciso.









Felipe Damasceno

Estado Vitrine - A roda infinita do desejo pelo desejo.




Vitrine

Uma vitrine, vitrina (português brasileiro) ou montra (português europeu) (do francês vitrine e montre) é um espaço envidraçado dentro de uma loja, onde são dispostos produtos para venda de tal forma, que possam ser vistos da rua pelos transeuntes. Geralmente, no caso de lojas de roupas, as vitrinas ostentam também manequins em seu interior.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.




Antes de iniciar esse devaneio gostaria de deixar claro que esses escritos foram feitos a partir da observação livre e pessoal do cotidiano em que estou inserido e que sem sombra de dúvida esta sendo estudado ou já foi estudo de outros com um ótica mais aprofundada. Não tenho propriedade sobre o assunto, sendo apenas algo que muito me chama a atenção e me interessa, mobilizando-me a escrever sobre.





O principio básico do desejo é o não ter o objeto desejado, partindo desse paradoxo, grande parte da publicidade utiliza-se disso como técnica de venda. Ao gerar desejo no outro você cria nele expectativas que estão para além da realidade e da possibilidade de satisfação. Sempre há uma nova versão para um produto existente, uma nova embalagem que lhe insinua outro funcionamento, melhor que o anterior, mais apto a atender suas necessidades. Que necessidades? De onde vem essas necessidades? De nós? Esse ato gera no consumidor uma constante insatisfação, pois sempre ao aparecer uma nova versão, a versão adquirida pelo consumidor torna-se ultrapassada e inútil fazendo com que o ato de adquirir a nova versão feche a pessoa em um ciclo vicioso infinito.

Essa roda infinita gera no homem contemporâneo uma angústia, uma sensação que não se sabe de onde vem, por que se sente e como não se sabe de onde vem nem o que é logo não se sabe como extermina-la. A cura para ela que nos é ofertada é um paliativo: a aquisição do objeto de desejo. O mundo é gerido por essas leis de mercado como forma de existência, que coloca-nos não mais como uma simples engrenagem ou macacos que parafusam peças de carro de um grande sistema, mas agora (com maior enfoque) como pessoas que desejam; que querem sentir prazer constantemente; sem que haja alguém  que possa impedir nosso “eu” hedonista de satisfazer nossos eternos prazeres. Necessidades essas (ao meu ver) plantadas pela publicidade.

“...Desesperançados de incrementar suas vidas com o que interessa, as pessoas convenceram-se de que o importante é o auto crescimento psíquico: entrar em contato com seus sentimentos, comer alimentos saudáveis, tomar lições de dança clássica ou dança do ventre, mergulhar na sabedoria do oriente, correr, aprender a se "relacionar", superar o "medo do prazer". Por si só inofensivas, essas buscas, elevadas ao nível de um programa e embrulhadas na retórica da autenticidade e da consciência, significam um recuo da política e um repúdio ao passado recente.” (A Cultura do Narcisismo – Christopher Lasch).




Essa forma de funcionamento mercadológico é também absorvida no espaço social do entretenimento (festa). A mesma técnica utilizada pelo mercado, incluindo sua lógica, é utilizada no ato ou tentativa de relacionar-se. A pessoa se produz, se embeleza utilizando ou não de artifícios para atingir ao que é considerado em nossos tempos como beleza (cria-se a imagem de si), concluído o processo de “fabricação”, inicia-se o processo de sedução: forma de andar, de dançar, de beber, de fumar. Observei isso em boates, no caso gays, e o que estive notando é uma barreira entre os frequentadores, ou seja, uma certa inacessibilidade como forma de despertar no outro a necessidade de possui-lo. Despertar o desejo. O que ocorre é que mesmo interessados não se dispõem a “ficar”, mesmo que momentaneamente, com aquele, ou seja, desperta-se o desejo para nada, simplesmente para acariciar o próprio ego. Esse joguinho perpetua-se por horas, onde ninguém cede, pois ceder é deixar o outro “possui-lo”, e como no mercado, será descartado e trocado por outro que possa vir a ceder. Isso se dilui em todas as formas de relacionar-se, como na internet.





Na internet, estando protegido do “olho no olho” e comunicando-se pela palavra escrita, ocorre o mesmo, mas de forma mais intensa. Na internet, mais precisamente no Facebook, onde ao adicionar alguém, você tem acesso (ou não, mas em sua grande maioria sim) a coisas das pessoas que no espaço “real” que estão no “Estado Vitrine” você não teria, como fotos pessoais e do próprio corpo mais despido, pensamento em forma escrita, tipo de música, tipo de filmes preferidos, lugares preferidos facilitando de certo modo uma melhor elaboração na forma de se aproximar através do “in box” ou das “cutucadas”.

“A medida que o mundo público passou a ser visto como um espelho do eu, as pessoas perderam a capacidade de distanciamento e, consequentemente, do encontro lúdico, que pressupõe um certo distanciamento do eu.” (A Cultura do Narcisismo – Christopher Lasch).

Estado Vitrine: é manter o outro em um estado de desejo (como no processo mercadológico de renovação de produto, serviços, atividades, crenças, ou seja, ideologia do novo) sem finalidade de entrega, com o princípio único de exaltar o próprio ego e manter-se sendo desejado infinitamente.





Felipe Damasceno









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