A inconsciência do incômodo.




Existem momentos em nossas vidas que decidimos e escolhemos no que acreditar, porém existe também dias em que temos que transgredir o que definimos como ideológico para nossas vidas, normalmente por motivos de necessidade básica, como ter o que comer. Artistas sabem bem o que isso significa. Desde que me entendo por gente percebia que algo me incomodava profundamente. Não entendia por que certas situações que vivenciava me faziam torcer a cara.


Não chegava nem se quer a questionar esse incomodo, não identificava como incomodo, não conhecia a palavra incomodo. Sabia que se dissesse para fazer tal coisa, independente de quem seja eu deveria obedecer, afinal quando se é criança você nunca tem razão. Decidiram que eu tinha que crescer, afinal você cresce por que percebe que o mundo funciona de um jeito que não adequa-se aos movimentos, pensamentos de uma criança. Crescido e crente que sabia de tudo que precisava saber, mantive-me torcendo a cara sem saber o por que. Aceitava tudo o que me era dito e reproduzia com fidelidade, pois qualquer ajuste de vírgula seria visto como heresia e blasfêmia. Mas quem iria me punir?

Todo esse incomodo existia, crescia a um nível tão profundo e desconhecido que o definiria como inconsciente. Pronto! Acho que é essa a palavra chave. A inconsciência de um incômodo por parte de certas situações, inconsciência de uma possibilidade de autonomia. A inconsciência de pensar. Não sabia pensar. E quando falo de pensar, me refiro a avaliar certa situação, momento, seja lá o que for e dela tirar algo para si. Gerar uma opinião, mesmo que não seja transformado em discurso, argumento. Palavras.

Após descoberto meu propósito, o meu por que de existir e lido “A dúvida”(esse ''por que'' me é dado não por alguém, por que creio que desse modo me tornaria um ser coisificado, um objeto com uma finalidade, mas um por que dado por mim, pela minha vida, pelas minhas necessidades enquanto ser humano) me fez prometer que não aceitaria nada sem pensar e contestar tudo aquilo que viesse
discordar.

Quando se passa para esse lado, não tem mais como retornar a essa postura, a meu ver, confortável e passiva. Hoje, sendo eu nada mais que um ser humano, olhar para essas pessoas é me ver nelas, ver uma ausência de opinião. Como se de fato não pensassem. Talvez muitos que venham a ler isso discordem do que digo por acha tais palavras por demais pretensiosas. Mas acrescento que grande parte das pessoas que lerão isso, serão artistas que conheço, e em sua grande maioria. Discursivamente falam o mesmo, mas com o medo politicamente correto de parecer nazista e politicamente incorreto.

Eu sinto pena. É tudo que consigo sentir, não por ser mal, mas por ser sincero o suficiente em dizer o que sinto nesse momento. Não consigo conversar com elas, parece que não me compreendem. Parecem só entender de novelas e vídeos do momento. Ai se eu te pego. Ai se te atravesso Ai! Ai! Se te atravesso, diriam alguns. Não é sobre conteúdo que me refiro, conteúdo se tem desde que se saiba usar o Google em sua potencialidade máxima, mas sobre ter opinião.

Como chegar nessas pessoas? Como? Como queria que pudessem ver o que vejo (ver e não pensar). Que maneiras, posso eu como artistas, gerar para tocar nesse ponto, tocar nas pessoas, chegar nelas? Tê-las comigo? Quero ver de outra maneira o nascer do sol.

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